O CONTRA-SÍMBOLO
Uma só luz sombreia o cais.
Há som som de barco que vai indo.
Adeus! Não nos veremos mais!
A maresia vai subindo,
Desde o fundo do mar vem vindo!
E o cheiro pútrido a mar morto
Cerra a atmosfera de pensar
Até tornar-se este um porto
E este cais a bruxulear.
Uma estação ferroviária
Algures no esperar campestre
Do expresso trovoando a área
De tudo quanto gire a oeste.
Apeadeiro universal
Onde cada um 'spera isolado
Ao ruído - mar ou pinhal? -
O expresso inútil atrasado.
E no desdobre da memória
O viajante indefinido
Ouve contar-se só a história
Do cais morto e do barco ido.
FERNANDO PESSOA, 30 DE JANEIRO DE 1926
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