Os antigos invocavam as Musas
Nós invocamo-nos a nós mesmos.
Não sei se as Musas apareciam –
Seria sem dúvida conforme o invocador e a invocação –
Mas sei que nós não aparecemos.
Quantas vezes me tenho debruçado
Sobre o poço que me suponho
E balido “Uh!” para ouvir o eco,
E não tenho ouvido mais do que visto –
O vago alvor escuro com que a água resplandece
Lá na inutilidade do fundo.
Nenhum eco para mim…
Só vagamente uma cara, que deve ser a minha, porque não pode ser de outro,
É uma coisa quase invisível,
Excepto como luminosamente surja
Lá no fundo…
No silêncio e na luz falso do fundo…
Que Musa!...
ÁLVARO DE CAMPOS, 3 DE JANEIRO DE 1935
Sem comentários:
Enviar um comentário