segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 83 ANOS



Nunca, por mais que viaje, por mais que conheça
O sair de um lugar, o chegar a um lugar, conhecido ou desconhecido,
Perco, ao partir, ao chegar, e na linha móbil que os une,
A sensação de arrepio, o medo do novo, a náusea —
Aquela náusea que é o sentimento que sabe que o corpo tem a alma,
Trinta dias de viagem, três dias de viagem, três horas de viagem —
Sempre a opressão se infiltra no fundo do meu coração.

ÁLVARO DE CAMPOS, 31 DE DEZEMBRO DE 1929 (Évora)

domingo, 30 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 78 ANOS



Não: devagar.
Devagar, porque não sei
Onde quero ir.
Há entre mim e os meus passos
Uma divergência instintiva.

Há entre quem sou e estou
Uma diferença de verbo
Que corresponde à realidade.

Devagar...
Sim, devagar...
Quero pensar no que quer dizer
Este devagar...

Talvez o mundo exterior tenha pressa demais.
Talvez a alma vulgar queira chegar mais cedo.
Talvez a impressão dos momentos seja muito próxima...
Talvez isso tudo...
Mas o que me preocupa é esta palavra devagar...
O que é que tem que ser devagar?
Se calhar é o universo...
A verdade manda Deus que se diga.
Mas ouviu alguém isso a Deus?

ÁLVARO DE CAMPOS, 30 DE DEZEMBRO DE 1934

sábado, 29 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 101 ANOS


O BIBLIÓFILO


Ó ambições!... Como eu quisera ser 
Um pobre bibliófilo parado 
Sobre o eterno fólio desdobrado 
E sem mais na consciência de viver. 

Podia a primavera enverdecer 
E eu sempre sobre o livro recurvado
Sorriria a um arcaico passado 
De uma medieval moça e qualquer. 

A vida não perdia nem ganhava 
Nada por mim, nenhum gesto meu dava 
Com gesto mais ao seu Amor profundo. 

E eu lia, a testa contra a luz acesa, 
Sem nada querer ser como a beleza 
E sem nada ter sido como o mundo. 


FERNANDO PESSOA, 29 DE DEZEMBRO DE 1911

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 93 ANOS



Clarim! Os mortos!

Contra Miguel de Vasconcellos
Republicano!

Eis outra vez o estrangeiro
Em Portugal!
Grita, clarim! Ao Conde Andeiro!
Mas quando a hora do Limoeiro
E do punhal?

Clarim, contra quem deu à França
A pátria e a grei,
Grita com fogo de esperança,
Vozes que chamem
O Rei!

E ao abismo do futuro clama
Por quem enfim
Vier, régia lusitana chama!
Pelo Rei que a Esperança chama,
Grita, clarim!

O Rei, a Lei, dias melhores …
Não sejam mais, nem já mais vezes
Os marinheiros portugueses
Guarda Vermelha dos Traidores!

Hoje em que nada é português
Salvo a desgraça,
E em que um sopro maligno e soez
Por sobre as nossas almas passa;

Hoje em que manda quem serviu
Por condição,
E o próprio amor à Pátria é frio
Por Pátria ser um nome vão;

Hoje que, ruído o trono e a glória,
Só o Traidor
O louro e o ouro da vitória
Goza, vil como um vil actor;

Hoje uma voz que se levante
E diga, embora
Chore de ver, chorando cante,
Que vem nascendo além a Aurora,

Diga em palavras já tocadas
De outra Visão,
O Rei, e a Vinda das Espadas,
E o fim da Horda e da Traição.

FERNANDO PESSOA, 28 DE DEZEMBRO DE 1919

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 94 ANOS



BÁQUICA MEDIEVAL


O nosso patrão é pai.
Faz-nos o bem..
Bebamos à saúde dele,
E à nossa também!
Não falte trigo p'ra semente,
Remédio ao doente,
Nem vinho à gente!

O nosso rei é padrinho.
Que Deus o ajude!
Bebamos à saúde dele
E à nossa saúde!
Não falte caridade a quem deve,
Direito a quem recebe
Nem vinho a quem bebe!

E vá à saúde da terra,
Que é bem preciso!
Livre-nos Deus, a nós e a ela,
De seca e granizo!
Que há três coisas que Deus proibiu - 
A fome, o frio,
E um copo vazio!


FERNANDO PESSOA, 27 DE DEZEMBRO DE 1918

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 80 ANOS





Na erva brincam meninos.
Cobrem a erva a sorrir.
Mais tarde, ao som leve de sinos,
Já não há-de haver meninos
E a erva é que os há-de cobrir.

Na brisa ligeira os vestidos
Das senhoras a brincar.
Mas, vindo os fados temidos,
Hão-de vestir, sem sentidos,
O solo onde hão-de enterrar.

Na brisa rodam os risos.
São risos de quem existe.
Mas nos seus tempos precisos
Hão-de dormir todos lisos
No mesmo chão verde e triste.

E tudo isso, que faz pena
Afinal só finge ser.
Não creias na erva serena
Nem na má terra morena.
Não chores. Não há morrer.

Todos os meninos ledos
E as senhoras a brincar
São para os deuses brinquedos.
Fazem-nos morrer por medos.
Durmam bem, que hão-de acordar.


FERNANDO PESSOA, 26 DE DEZEMBRO DE 1932

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 88 ANOS



Como a folha em móveis águas, 
De onda em onda, em confusão, 
Rola de mágoas em mágoas 
Meu inerte coração. 

Mas nem as águas o arrastam 
Por vontade de arrastar; 
Por um destino se afastam 
Alheio ao seu afastar. 

Assim as mágoas que apertam 
Meu coração, é sem qu’rer 

FERNANDO PESSOA, 25 DE DEZEMBRO DE 1924

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 99 ANOS



Todo o meu corpo é o universo inteiro
Meu ser corpóreo é um imenso abismo
Onde, como astros de um (...) local
Universo de sonho e de Real
Enorme seu brilho (...) e passageiro
Sempre que dentro de mim me entrego e cismo.

Quanto eu sou porque sou consciência e alma?
Dentro de mim barca suave e calma
Num mar de Horror
Flutua a Realidade Exterior
Desconhecidos seres de outra matéria
Que os sentimentos ou os corpos, luzem
E o que em mim pensa conduzem
Para uma confusão divina e etéria..

Erro entre abismos dentro do meu ser
Ocupo-me indeterminadamente


FERNANDO PESSOA, 24 DE DEZEMBRO DE 1913

domingo, 23 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 81 ANOS





Sol de inverno triste e frio
Embora claro e coitado,
Ao meu coração vazio
Não dás mais que alheio agrado...

Agrado de se estivesse
Em outra parte, ou de ser
Alguém outrem que tivesse
A dita que não sei ter.

Claro, e um pouco matinal
Ainda que no auge do dia,
Fazes-me bem, fazes mal...
Mal bom, bem sem alegria.

Lá fora talvez onde há
O pleno azul que é o céu,
Alguém por seu te terá.
Eu nem te tenho por meu.


FERNANDO PESSOA, 23 DE DEZEMBRO DE 1931

sábado, 22 de dezembro de 2012

FAZ ESTE MÊS 101 ANOS



ANÁLISE 


Tão abstracta é a ideia do teu ser
Que me vem de te olhar, que, ao entreter
Os meus olhos nos teus, perco‑os de vista,
E nada fica em meu olhar, e dista
Teu corpo do meu ver tão longemente,
E a ideia do teu ser fica tão rente
Ao meu pensar olhar-te, e ao saber-me
Sabendo que tu és, que, só por ter‑me
Consciente de ti, nem a mim sinto.
E assim, neste ignorar-me a ver-te, minto
A ilusão da sensação, e sonho,
Não te vendo, nem vendo, nem sabendo
Que te vejo, ou sequer que sou, risonho
Do interior crepúsculo tristonho
Em que sinto que sonho o que me sinto sendo.


FERNANDO PESSOA, DEZEMBRO DE 1911

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 94 ANOS




No ouro sem fim da tarde morta, 
Na poeira de ouro sem lugar
Da tarde que me passa à porta
Para não parar,

No silêncio dourado ainda
Dos arvoredos verde-fim,
Recordo. Eras antiga e linda
E estás em mim...

Tua memória há sem que houvesses,
Teu ar, sem que fosses alguém.
Como uma brisa me estremeces
E eu choro um bem...

Perdi-te. Não te tive. A hora
É suave para a minha dor.
Deixa meu ser que rememora
Sentir o amor,

Ainda que amar seja um receio,
Uma lembrança falsa e vã,
E a noite deste vago anseio
Não tenho manhã.

FERNANDO PESSOA, 21 DE DEZEMBRO DE 1918

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 88 ANOS



Sonhos, sistemas, mitos, ideais...
Fito a água insistente contra o cais,
E, como flocos de um papel rasgado,
A ela dando-os como a um justo fado,
Sigo-os com olhos em que não há mais
Que um vão desassossego resignado.

Eles a mim como consolarão -
A mim, que de inquieto já nem choro;
Que na erma mente e no ermo coração
Sombras, só sombras, sombra, rememoro;
A mim, em tudo, sempre, em vão,
Cansado, até dos deuses que não são?

FERNANDO PESSOA, 20 DE DEZEMBRO DE 1924

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 79 ANOS



DACTILOGRAFIA


Traço sozinho, no meu cubículo de engenheiro, o plano,
Firmo o projecto, aqui isolado,
Remoto até de quem eu sou.

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro,
O tic-tac estalado das máquinas de escrever.

Que náusea da vida!
Que abjecção esta regularidade!
Que sono este ser assim!

Outrora, quando fui outro, eram castelos e cavalarias
(Ilustrações, talvez, de qualquer livro de infância),
Outrora, quando fui verdadeiro ao meu sonho,
Eram grandes paisagens do Norte, explícitas de neve,
Eram grandes palmares do Sul, opulentos de verdes.

Outrora…

Ao lado, acompanhamento banalmente sinistro.
O tic-tac estalado das máquinas de escrever.

Temos todos duas vidas:
A verdadeira, que é a que sonhámos na infância,
E que continuamos sonhando, adultos num substracto de névoa;
A falsa, que é a que vivemos em convivência com outros,
Que é a prática, a útil,
Aquela em que acabam por nos meter num caixão.

Na outra não há caixões, nem mortes,
Há só ilustrações de infância:
Grandes livros coloridos, para ver mas não ler;
Grandes páginas de cores para recordar mais tarde.
Na outra somos nós,
Na outra vivemos;
Nesta morremos, que é o que viver quer dizer;
Neste momento, pela náusea, vivo na outra...

Mas ao lado, acompanhamento banalmente sinistro.
Ergue a voz o tic-tac estalado das máquinas de escrever.

ÁLVARO DE CAMPOS, 19 DE DEZEMBRO DE 1933

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 78 ANOS





Às vezes tenho ideias, felizes,
Ideias subitamente felizes, em ideias
E nas palavras em que naturalmente se despejam...

Depois de escrever, leio...
Porque escrevi isto?
Onde fui buscar isto?
De onde me veio isto? Isto é melhor do que eu...

Seremos nós neste mundo apenas canetas com tinta
Com que alguém escreve a valer o que nós aqui traçamos?...

ÁLVARO DE CAMPOS, 18 DE DEZEMBRO DE 1934

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 85 ANOS



Perdi a esperança como uma carteira vazia...
Troçou de mim o Destino; fiz figas para o outro lado,
E a revolta bem podia ser bordada a missanga por minha avó
E ser relíquia da sala da casa velha que não tenho.

(Jantávamos cedo, num outrora que já me parece de outra incarnação,
E depois tomava-se chá nas noites sossegadas que não voltam.
Minha infância, meu passado sem adolescência, passaram,
Fiquei triste, como se a verdade me tivesse sido dita,
Mas nunca mais pude sentir verdade nenhuma excepto sentir o passado)

ÁLVARO DE CAMPOS, 17 DE DEZEMBRO DE 1927

domingo, 16 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 80 ANOS



Vi passar, num miytério concedido,
Um cavalleiro negro e luminoso
Que, sob um grande pállio rumoroso,
Seguia lento com o seu sentido.

Quatro figuras que lembrando olvido
Erguiam alto as varas, e um lustroso
Torpor de luz dormia tenebroso
Nas dobras desse pano estremecido.

Na fronte do vencido ou vencedor
Uma coroa pálida de espinhos
Lhe dava um ar de ser rei e senhor.


FERNANDO PESSOA, 16 DE DEZEMBRO DE 1932

sábado, 15 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 80 ANOS



Vae alto pela folhagem
Um rumor de pertencer,
Como se houvesse na aragem                   
Uma razão de querer.

Mas, sim, é como se o som
Do vento no arvoredo
Tivesse um intuito, ou bom
Ou mau, mas feito em segredo,

E que, pensando no abysmo
Onde os ventos são ninguém,
Subisse até onde scismo,
E, alto, alado, num vaivém

De tormenta commovesse
As árvores agitadas
Até que d'ellas me viesse
Este mau conto de fadas.


FERNANDO PESSOA, 15 DE DEZEMBRO DE 1932

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

POEMA SEM DATA





Coroai-me de rosas,
Coroai-me em verdade
De rosas -
Rosas que se apagam
Em fronte a apagar-se
Tão cedo!
Coroai-me de rosas
E de folhas breves.
E basta.


RICARDO REIS

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 98 ANOS



Os mortos! Que prodigiosamente
E com que horrível reminiscência
Vivem na nossa recordação deles!

A minha velha tia na sua antiga casa, no campo
Onde eu era feliz e tranquilo e a criança que eu era...
Penso nisso e uma saudade toda raiva repassa-me...
E, além disso, penso, ela já morreu há anos...
Tudo isto, vendo bem, é misterioso como um lusco-fusco...
Penso, e todo o enigma do universo repassa-me.
Revejo aquilo na imaginação com tal realidade
Que depois, quando penso que aquilo acabou
E que ela está morta,
Encaro com o mistério mais palidamente
Vejo-o mais escuro, mais impiedoso, mais longínquo
E nem choro, de atento que estou ao terror da vida...

Como eu desejaria ser parte da noite,
Parte sem contornos da noite, um lugar qualquer no espaço
Não propriamente um lugar, por não ter posição nem contornos,
Mas noite na noite, uma parte dela, pertencendo-lhe por todos os lados
E unido e afastado companheiro da minha ausência de existir...

Aquilo era tão real, tão vivo, tão actual!...
Quando em mim o revejo, está outra vez vivo em mim...
Pasmo de que coisa tão real pudesse passar...
E não existir hoje e hoje ser tão diverso...
Corre para o mar a água do rio, abandona a minha vista,
Chega ao mar e perde-se no mar,
Mas a água perde-se de si-própria?
Uma coisa deixa de ser o que é absolutamente
Ou pecam de vida os nossos olhos e os nossos ouvidos
E a nossa consciência exterior do Universo?
Onde está hoje o meu passado?
Em que baú o guardou Deus que não sei dar com ele?
Quando o revejo em mim, onde é que o estou vendo?
Tudo isto deve ter um sentido - talvez muito simples -
Mas por mais que pense não atino com ele.

ÁLVARO DE CAMPOS, 13 DE DEZEMBRO DE 1914

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 93 ANOS


Pousa um momento,
Um só momento em mim,
Não só o olhar, também o pensamento.
Que a vida tenha fim
Nesse momento!
 
No olhar a alma também
Olhando-me, e eu a ver
Tudo quanto de ti teu olhar tem,
A ver até esquecer
Que tu és tu também...
 
Só tua alma, nunca tu
Só o teu pensamento
E eu nada, alma sem eu. Tudo o que sou
Ficou com o momento
E o momento acabou.
 
 
FERNANDO PESSOA, 12 DE DEZEMBRO DE 1919

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

FFAZ HOJE 79 ANOS



Era uma criança pobre a passar
Tão pequena, e um seu olhar
Pousou em mim, pousou em vão,
Porque eu ia passando, pensando,
Em grandes coisas meditando;
Deixara em casa o coração.

Mas depois acordei, e vi
Que não sentia, que não senti.
Eu creio em Deus e em Cristo, mas não
Tive ali o meu coração.

Porque é que eu penso tanto e ando
Alheio a quanto vai pensando
No mundo, e é criança até?
Porque é que eu tenho 'sperança e fé
E não sou nada do que sou?
Porque é que a criança passou
Sem que eu sequer a olhasse bem?
Meu coração não é ninguém!
Ah, o crime de não ter sentido
Naquele olhar pobre e perdido
Para os meus olhos sua dor!
E eu sou poeta e pensador!


FERNANDO PESSOA, 11 DE DEZEMBRO DE 1933

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 95 ANOS





O mundo rui a meu redor, escombro a escombro.
Os meus sentidos oscilam, bandeira rota ao vento.
Que sombra de que o sol enche de frio e de assombro
A estrada vazia do conseguimento?

Busca um porto longe uma nau desconhecida
E esse é todo o sentido da minha vida.

Por um mar azul nocturno, estrelado no fundo,
Segue a sua rota a nau exterior ao mundo.

Mas o sentido de tudo está fechado no pasmo
Que exala a chama negra que acende em meu entusiasmo

Súbitas confissões de outro que eu fui outrora
Antes da vida e viu Deus e eu não o sou agora.

FERNANDO PESSOA, 10 DE DEZEMBRO DE 1917

sábado, 8 de dezembro de 2012

FAZ HOJE 95 ANOS


Não vivo em vão
Se escrever bem
Uma canção;

E também não
Ser der a alguém
Útil, a mão.

Pobre, porém,
Não posso a mão
Dar a ninguém.

Escreverei bem
Uma canção.

FERNANDO PESSOA, 8 DE DEZEMBRO DE 1917