segunda-feira, 30 de setembro de 2019

FAZ HOJE 89 ANOS




Como um vento na floresta,
Minha emoção não tem fim.
Nada sou, nada me resta.
Não sei quem sou para mim.

E como entre os arvoredos
Há grandes sons de folhagem,
Também agito segredos
No fundo da minha imagem.

E o grande ruído do vento
Que as folhas cobrem de som
Despe-me do pensamento:
Sou ninguém, temo ser bom.

FERNANDO PESSOA, 30 DE SETEMBRO DE 1930


domingo, 29 de setembro de 2019

FAZ HOJE 86 ANOS




A lua por trás da torre
Faz a torre diferente.
A verdade, quando morre
Morre só porque não mente.

Mente a lua que se esconde
Por trás da torre de aqui,
Mente a torre porque é onde
A lua não está ali.

A lua é só um reflexo
A torre é um vulto somente,
E assim, num íntimo nexo,
Qualquer diz verdade e mente.

E é desta mista incerteza
De verdade e de mentira
Que nasce toda a beleza -
Que desta hora se tira.

Saibamos, dando guarida
Ao que tudo é de metade,
Fazer bela a nossa vida
Mentindo com a verdade.


FERNANDO PESSOA, 29 DE SETEMBRO DE 1933


sábado, 28 de setembro de 2019

FAZ HOJE 93 ANOS





Não torna ao ramo a folha que o deixou,
Nem com o seu mesmo pé se uma outra forma.
O momento, que acaba ao começar
Este, morreu p'ra sempre.
Não me promete o incerto e vão futuro
Mais do que esta repetida experiência
Da mortal sorte e a condição perdida
Das cousas e de mim.
Por isso, neste rio universal
De que sou, não uma onda, senão ondas,
Decorro, inerte, sem pedido, nem
Deuses a quem o faça.

RICARDO REIS, 28 DE SETEMBRO DE 1926


sexta-feira, 27 de setembro de 2019

FAZ HOJE 88 ANOS





Sim, sei bem
Que nunca serei alguém.
Sei de sobra
Que nunca terei uma obra.
Sei, enfim,
Que nunca saberei de mim.
Sim, mas agora,
Enquanto dura esta hora,
Este luar, estes ramos,
Esta paz em que estamos
Deixa-me crer
O que nunca poderei ser.

RICARDO REIS, 27 DE SETEMBRO DE 1931


quinta-feira, 26 de setembro de 2019

FAZ HOJE 91 ANOS





D. FILIPA DE LENCASTRE

Que enigma havia em teu seio
Que só génios concebia?
Que arcanjo teus sonhos veio
Velar, maternos, um dia?

Volve a nós teu rosto sério,
Princesa do Santo Gral,
Humano ventre do Império,
Madrinha de Portugal!

FERNANDO PESSOA, 26 DE SETEMBRO DE 1928