quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Os 75 anos da morte de Fernando Pessoa

Completaram-se ontem 75 anos sobre a morte de Fernando Pessoa. Aguardei, até este momento, pelas iniciativas de carácter público e nacional, que um facto desta dimensão cultural obrigaria. Suponho que há um Ministério da Cultura, embora desconheça qualquer prova cabal da sua existência; será, decerto, mais uma repartição pública. Mas há, sob a a tutela da Câmara Municipal de Lisboa, a “Casa Fernando Pessoa”, cuja direcção, justificando a referida tutela, considera que Portugal é só Lisboa.
Tanto quanto me foi dado constatar, a efeméride foi silenciada, nuns casos, e esquecida, noutros. Os 75 anos sobre a morte do Poeta universal que é o Fernando Pessoa, passaram desapercebidos. E trata-se de um facto muito grave, mas lamentàvelmente muito significativo.
A dimensão única do Fernando Pessoa, começou a incomodar os poetas menores desta praça, que se atrevem, já, a irem para o estrangeiro, à custa do Estado, que somos todos nós, participar em leituras da sua poesia e aproveitarem para afirmarem que se congratulam com o facto de se estarem a homenagear poetas portugueses, e não o Fernando Pessoa! Fonte de informação: site do Instituto de Camões. Autor da proeza: Vasco Graça Moura. O mesmo que em 1999 escreveu um livro a que deu o significativo título “Contra Bernardo Soares e outras observações”, publicitando a sua campanha contra o mundo civilizado, que tem o “Livro do Desassossego” como uma obra de dimensão universal.
É pois significativo que este e outros, por razões ainda mais indesculpáveis, silenciem tudo o que respeite ao Fernando Pessoa. Mas que a “Casa Fernando Pessoa” não cumpra com a sua missão, e sendo ela paga por dinheiros públicos, já deverá ser motivo para esta pública reclamação.
Como homenagem, sem dimensão pública, tal como tudo o que se escreve neste blogue, lembramos um soneto bem significativo:
Múrmura voz das árvores mexidas
Por um nocturno, vago, leve vento,
Casa-te com meu triste sentimento
Que paira sobre as campas esquecidas!

De quantas almas, no silêncio idas,
Não há neste momento um pensamento!
Que Deus as guarde do conhecimento
De como estão longínquas e perdidas!

Ah, quão inteiramente eram mortais!
Não fazem falta à vida leve e forte.
Sem eles, os que amavam são iguais.

Quem vai tem em quem fica a pior sorte,
Nós é que aos mortos enterramos mais!
É em nosso coração que vive a Morte!


Fernando Pessoa, 11/4/1925

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