quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

FAZ 76 ANOS


Trila na noite uma flauta. É de algum

Pastor? Que importa? Perdida

Série de notas vagas e sem sentido nenhum,

Como a vida.



Sem nexo ou princípio ou fim ondeia

A ária alada.

Pobre ária fora da música e da voz, tão cheia

De não ser nada!



Não há nexo ou fio por que se lembre aquela

Ária, ao parar;

E já ao ouvi-la sofro a saudade dela

E o quando cessar.



FERNANDO PESSOA, DEZEMBRO DE 1924

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