Trila na noite uma flauta. É de algum
Pastor? Que importa? Perdida
Série de notas vagas e sem sentido nenhum,
Como a vida.
Sem nexo ou princípio ou fim ondeia
A ária alada.
Pobre ária fora da música e da voz, tão cheia
De não ser nada!
Não há nexo ou fio por que se lembre aquela
Ária, ao parar;
E já ao ouvi-la sofro a saudade dela
E o quando cessar.
FERNANDO PESSOA, DEZEMBRO DE 1924
Sem comentários:
Enviar um comentário