Vão regulares os pequenos do asilo
Como soldados, mas com mais vagar.
Olho-os e em mim não está tranquilo
O que sente por pensar.
Pobres crianças postas em fila
Pelo Destino, quatro a quatro vão,
Dóceis (Minha alma não está tranquila),
Comuns na sua solidão.
Vendo bem, e à luz do sentimento,
Não sofrerei eu mais do que eles? Sim,
Talvez, talvez… Mas neste momento
Não penso em mim –
Penso nos que sem ninguém senão escola.
Sem achar amor senão no uniforme,
Vão, pedintes que não pedem, sem sacola,
Sós, juntos pelo mundo enorme.
Seus passos são leves e breves – são de infância
Sem pais, sem nada iguais, regulares, vão
Calcando, ignorantemente, na distância,
O meu coração.
Fernando Pessoa, 10 de Dezembro de 1933
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