Ah, sempre no curso leve do tempo
pesado
A mesma forma de viver!
O mesmo modo inútil de ser enganado
Por crer ou por descrer!
Sempre, na fuga ligeira da hora que
morre,
A mesma desilusão
Do mesmo olhar lançado do alto da
torre
Sobre o plaino vão!
Saudade, 'sperança - muda o nome,
fica
Só à alma vã
No pobreza de hoje a consciência de
ser rica
Ontem ou amanhã.
Sempre, sempre, no lapso indeciso e
constante
Do tempo sem fim
O mesmo momento voltando improfícuo
e distante
Do que quero em mim!
Sempre, ou no dia ou na noite,
sempre - seja
Diverso - o mesmo olhar de desilusão
Lançado do alto da torre da ruína da
igreja
Sobre o plaino vão!
FERNANDO PESSOA, 1 DE JANEIRO DE
1921
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