FAZ HOJE 93 ANOS
A luz do sol afaga o imenso dia.
Um sopro brando, quase não de
inverno,
Sobriamente os campos inebria.
Ah, mas o que há de eterno?
Em que é que a alma sem sonhar se
fia?
Meu coração nada recebe da hora
Salvo o vácuo de nada receber.
Como criança abandonada, chora,
Que não sabe o que quer,
Nem por onde ir, nem porque se
demora.
E alheio a isto, que sou eu, que
brando
O sol de inverno lembra a primavera!
Que afago busca o que em mim 'stá
sonhando,
Que 'spera quem nada 'spera?
Que fica a quem sabe que está
passando?
FERNANDO PESSOA, 23 DE JANEIRO DE
1925
-->
Sem comentários:
Enviar um comentário