Cabeça augusta, que uma luz
contorna,
Que há entre mim e o mundo que me
faz
(Porque em espinhos a auréola se
torna?)
Ansiar a minha morte e a tua paz?
A tua história - Pilatos ou Caifás
Que tem? São sonhos que o narrar
transtorna,
Não é esse o Calvário a que te traz
Tua sina onde todo o fel se entorna.
Não. É em mim que se o Calvário
ergueu.
É em meu coração abandonado
Que Ele, cabeça augusta, alto
sofreu.
Quem na Cruz onde está ermo e
pregado
O pregou? Foi Romano ou foi Judeu?
Bate-me o coração. Meu Deus, fui eu!
FERNANDO PESSOA, 20 DE JANEIRO DE
1933
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