Côa-se através da minh'alma
Como através dum
vitral
Toda a agonia
voluptuosa e incerta
De uma outra espécie
de alma, mais jóia, mais pálio,
Gémea da minha, mas
com Deus de permeio...
Cai sobre as mãos que
alongo
- Olho-as
distraidamente e esqueço -
Sobre o livro
indecisamente lido
Parte da luz coada
pelo vitral em febre,
E a cor que estagna
nas minhas mãos dói-me nos olhos
Por um esquecimento
corpo análogo a sombras...
Entretanto, não há a
igreja, nem a solidão fria e ampla,
Nem o resto do incenso
que faz tremer,
Nem a consciência de
haver o altar pesando na alma...
Não; só o vitral e
tudo isto através dele...
De aí a febre que,
como uma antecâmara de templo secreto,
De templo para cultos
inversos,
Me enche de
possibilidades coloridas de meus sentidos,
A vista e o ouvido e
o olfacto tendo só a vista...
Passos...
FERNANDO PESSOA, 13
DE ABRIL DE 1916
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