domingo, 28 de abril de 2013

FAZ HOJE 94 ANOS





O que de mim aparece 
À janela de mim 
De mim se esquece, 
Não me é afim. 

No que me mostro 
Não me revelo, 
Cubro o meu rosto 
Com o mundo ainda, quando me des-velo. 

O sentido que tenho 
Não tem nome, 
Ninguém em mim. 
Não ninguém por quem meu ser me tome. 

Mas quando a Aurora 
De mim raiar, 
Quando o dia que há lá fora 
De mim e não do sol constar;

Quando as 'strelas 
Dentro em mim alma 
Constelarem, não suas formas belas,
Mas o sentido que tem de constelar, 

Quando, no oceano exterior 
Eu tiver manhã, 
E depois com um (…) a dor 

Serei quem sou, mas não aqui, 
Compreenderei, mas não eu, 
Memória eterna do que também vi, 
Eu terra, eu (…), e eu céu, 

Serei a imagem verdadeira 
Do eu irreal que aqui estou, 
A forma atávica e primeira 
Do que hoje sou, 

A face toda olhar e assombro, 
Quando o oceano de mim secar, 
A Atlântida de mim, sem (…) escombro, 
Surgirá do fundo do meu mar. 

Mas isso quando? Quando o (…)

E nasço no fim do Ocidente 
O sol encoberto, (…)
E em antemanhã que cessa
Na cerração,
Raiar o fim da promessa,
El-Rei D. Sebastião.




FERNANDO PESSOA, 28 DE ABRIL DE 1919

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