Passam as nuvens, murmura o vento
Passam as nuvens, vão devagar.
Demoro em mim o meu pensamento
E só encontro não encontrar...
Passam as nuvens, os ventos vão,
Levam as nuvens a um vago além
Mas nunca a dor em meu coração
Ou a ânsia vaga de que provém.
Passam as nuvens, não têm destino
Salvo passar, não ficar aqui...
Assim meu ser tivesse um divino
Nenhum-destino, não ser de si.
Passam as nuvens, eu fico e tenho
Por meu destino pior, ficar...
Sem saber donde, nuvem, provenho
Ou qual o vento que me há-de levar...
FERNANDO PESSOA, 30 DE ABRIL DE 1917
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