sexta-feira, 8 de abril de 2011

FAZ HOJE 81 ANOS

CARRY NATION


Não uma santa estética, como Santa Teresa,
Não uma santa dos dogmas,
Não uma santa.
Mas uma santa humana, maluca e divina,
Materna, agressivamente materna,
Odiosa, como todas as santas,
Persistente, com a loucura da santidade.
Odeio-a e estou de cabeça descoberta
E dou-lhe vivas sem saber porquê!
Estupor americano aureolado de estrelas!
Bruxa de boa intenção...
Não lhe desfolhem rosas na campa
Mas louros, os louros da glória.
Façamos-lhe a glória e  o insulto!
Bebamos à saúde da sua imortalidade
Esse vinho forte de bêbados.


Eu, que nunca fiz nada no mundo,
Eu que nunca soube querer nem saber,
Eu, que fui sempre a ausência da minha vontade,
Eu te saúdo, mãezinha maluca, sistema sentimental!
Exemplar da aspiração humana!
Maravilha de bons gestos e duma grande vontade!


Minha Joana D'Arc sem pátria!
Minha Santa Teresa humana!
Estúpida como todas as santas
E militante como a alma que quer vencer o mundo!
É no vinho que odiaste que deves ser saudada!
É com brindes gritados chorando que te canonizaremos!


Saudação de inimigo a inimigo!
Eu, tantas vezes caindo de bêbado só por não querer sentir,
Eu, embriagado tantas vezes, por não ter alma bastante,
Eu, o teu contrário,
Arranco a espada aos anjos, aos anjos que guardam o Éden,
E ergo-a em êxtase, e grito ao teu nome!




ÁLVARO DE CAMPOS, 8 DE ABRIL DE 1930

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