Vem pela bruma a falar.
Não me diz coisa nenhuma.
Sei ouvi-la sem escutar.
É a voz antiga e perdida
Que diz sempre ao coração
Que não é nada esta vida
Que todo o esforço é em vão.
Naufraga em ser todo intuito,
Morre em passar todo passo.
O que queremos é muito,
O que obtemos já chega.
Chega e vê que há somente
No cais aonde amarramos
A ausência de toda a gente
E a chegada que lhes damos.
E assim, inúteis do acaso,
Senhores do nada ser,
Cantamos o nosso caso,
Poetas, ao entardecer.
FERNANDO PESSOA, 6 DE ABRIL DE 1934
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