O QUINTO IMPÉRIO
Triste de quem vive em
casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no
erguer de asa,
Faça até mais rubra a
brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raiz
-
Ter por vida a
sepultura.
Eras sobre eras se somem
No tempo que em eras
vem.
Ser descontente é ser
homem.
Que as forças cegas se
domem
Pela visão que a alma
tem!
E assim, passados os
quatro
Tempos do ser que
sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no
atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma,
Cristandade,
Europa - os quatro se
vão
Para onde vai toda
idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
FERNANDO PESSOA, 21 DE
FEVEREIRO DE 1933
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