Soam vãos, dolorido
epicurista,
Os versos teus, que a
minha dor despreza;
Já tive a alma sem
descrença presa
Desse teu sonho, que
perturba a vista.
Da Perfeição segui em vã
conquista,
Mas vi depressa, já sem
a alma acesa,
Que a própria ideia em
nós dessa beleza
Um infinito de nós
mesmos dista.
Nem à nossa alma definir
podemos
A Perfeição em cuja
estrada a vida,
Achando-a intérmina, a
chorar perdemos.
O mar tem fim, o céu
talvez o tenha,
Mas não a ânsia de Coisa
indefinida
Que o ser indefinida faz
tamanha.
FERNANDO PESSOA, 27 DE
FEVEREIRO DE 1909
Sem comentários:
Enviar um comentário