segunda-feira, 14 de março de 2011

FAZ HOJE 94 ANOS

Súbita mão de algum fantasma oculto
Entre as dobras da noite e do meu sonho
Sacode-me e eu acordo,e no abandono
Da noite não enxergo gesto ou vulto.

Mas um terror antigo, que insepulto
Trago no coração, como de um trono
Desce e se afirma meu senhor e dono
Sem ordem, sem meneio e sem insulto.

E eu sinto a minha vida de repente
Presa por uma corda de Inconsciente
A qualquer mão nocturna que me guia.

Sinto que sou ninguém salvo uma sombra
De um vulto que não vejo e que me assombra,
E em nada existo como a treva fria.

FERNANDO PESSOA, 14 DE MARÇO DE 1917



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