São como os livros - não se pode ler tudo, nunca se sabe nada.
Feliz quem conhece só um deus, e o guarda em segredo.
Tenho todos os dias crenças diferentes -
Às vezes no mesmo dia tenho crenças diferentes -
E gostava de ser a criança que me atravessa agora
A visão da janela abaixo -
Comendo um bolo barato (ele é pobre) sem causa eficiente e final,
Animal inutilmente erguido acima dos outros vertebrados
E cantando, entre as dentadas, uma cantiga obscena de revista...
Sim, há muitos deuses...
Mas dava tudo ao deus que me levasse aquela criança daqui para fora...
ÁLVARO DE CAMPOS, 9 DE MARÇO DE 1930
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