quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

FAZ HOJE 76 ANOS



REGRESSO AO LAR


Há quanto tempo não escrevo um soneto
Mas não importa: escrevo este agora.
Sonetos são infância, e, nesta hora,
E a minha infância é só um ponto preto

Que num imóbil e fatal trajecto
Do comboio que sou me deita fora.
E o soneto é como alguém que mora
Há dois dias em tudo o que projecto.

Graças a Deus, ainda sei que há
Catorze linhas a cumprir iguais
Para a gente saber onde é que está...

Mas onde a gente está, ou eu, não sei...
Não quero saber nada de nada mais
E berdamerda para o que saberei.


ÁLVARO DE CAMPOS, 3 DE FEVEREIRO DE 1935

Sem comentários: