REGRESSO AO LAR
Há quanto tempo não escrevo um soneto
Mas não importa: escrevo este agora.
Sonetos são infância, e, nesta hora,
E a minha infância é só um ponto preto
Que num imóbil e fatal trajecto
Do comboio que sou me deita fora.
E o soneto é como alguém que mora
Há dois dias em tudo o que projecto.
Graças a Deus, ainda sei que há
Catorze linhas a cumprir iguais
Para a gente saber onde é que está...
Mas onde a gente está, ou eu, não sei...
Não quero saber nada de nada mais
E berdamerda para o que saberei.
ÁLVARO DE CAMPOS, 3 DE FEVEREIRO DE 1935
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