Logrará esse vácuo ao qual aspira
A alma que, de esperar em vão, delira,
E já nem forças para querer tem?
Que sono apetecemos? O de alguém
Adormecido na feliz mentira
De sonolência vaga, que nos tira
Todo o sentido no qual a dor nos vem?
Ilusão tudo! Qu'rer um sono eterno,
Um descanso, uma paz, não é senão
O último anseio desesp'rado e vão.
Perdido, resta o derradeiro inferno
De tédio intérmino, esse de já não
Nem aspirar a ter aspiração.
FERNANDO PESSOA, 27 DE FEVEREIRO DE 1909
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