sexta-feira, 1 de maio de 2015

FAZ HOJE 87 ANOS




NA ÚLTIMA PÁGINA DE UMA ANTOLOGIA NOVA

Tantos bons poetas!
Tantos bons poemas!
São realmente bons e bons,
Com tanta concorrência não fica ninguém,
Ou ficam ao acaso, numa lotaria de posteridade,
Obtendo lugares por capricho do Empresário...

Tantos bons poetas!
Para que escrevo eu versos?
Quando os escrevo parecem-me
O que a minha emoção, com que os escrevi, me parece -
A única coisa grande do mundo...
Enche o universo de frio o pavor de mim.
Depois, escritos, visíveis, legíveis...
Ora... E nesta antologia de poetas menores?
Tantos bons poetas!
O que é o génio, afinal, ou como é que se distingue
O génio, e os bons poetas dos bons poetas?
Sei lá se realmente se distingue...
O melhor é dormir...
Fecho a antologia mais cansado do que do mundo -
Sou vulgar?
Há tantos bons poetas!
Santo Deus!...


ÁLVARO DE CAMPOS, 1 DE MAIO DE 1928

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