Se o rouxinol falasse,
não cantava.
Ah, um bocado de inconsciência!
Meu coração onde é que
estava
Quando eu falava com a
ciência?
Não... E escusado o
amor...
Um sentimento...
Qualquer cousa que seja
a flor
De não haver (nenhum)
intento...
Qualquer cousa de
intervalar;
Por imprecisa, suave...
Qualquer cousa como
aquele ar
Onde a alma é ave...
Depois, até o regresso à
vida
Tem suavidade - aquela
Que, porque foi sentida,
É ainda a saudade dela.
Não pensar bem... Ir
começando...
Depois, interromper
sorrindo...
Ave que, ainda voando,
Vem caindo...
Memória do futuro
inútil,
Preciosa a leque e a
riso seu...
E o pano apaga o drama
inútil
Que já esqueceu...
FERNANDO PESSOA, 5 DE
FEVEREIRO DE 1931
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