Ele aí jaz em plena paz.
Já nada faz nem quer...
Deixem que gele... Acabou p'ra ele já
O amor à pele e o amor da mulher.
Combateu bem sem saber por quem
Ou por quê, e aí têm... assim
E ei-lo aí que dorme o tal sono enorme
Que o fará disforme... E o fim do fim...
Com cega ânsia bruta caiu na luta
Não há vinho ou puta p'ra ele já
Talvez que no violento último momento
Ao cair %
Vivesse mais vida, mas toda vivida
P'ra quê lamentá-lo?
Talvez a vitória seja a morte, e a glória
Seja ser só memória disso
E talvez vencer seja mais morrer
Que sobreviver... Que é a morte? É ocaso...
A vida é só tê-la, vivê-la e perdê-la
De morte vivê-la. Foi o que este fez.
Num grito e num tiro, deu-lhe tudo um giro
Lançou um suspiro e era uma vez...
Nós que vamos pondo razões e cumprindo
Causas e supondo %
Estamos mais no certo que esta besta
E talvez o melhor... Seja lá o que for
A vida voltou, ele é o que é...
Lutemos sem ver da morte o mal que brada
Lá a vida é nada. Tenhamos fé.
FERNANDO PESSOA, 18 DE FEVEREIRO DE 1913
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