terça-feira, 30 de julho de 2013

FAZ HOJE 96 ANOS




NOMEN ET PRAETEREA NIHIL

Mina-me a alma com suavidade,
Com uma incerta angústia meu ser come
Uma vaga, indecisa saudade
Só de um nome.

Onde o ouvi? Qual era? Não o sei.
O seu efeito em mim apenas vive
E a ideia de que ouvindo-o é que criei
A dor que em mim revive.

Rainha o teve? ou que princesa morta?
Ou fada incerta o usou para fadar?
Quem ele foi agora não me importa.
Sem ele não sei já sonhar.

Ao pé dele - não sei se em quem o tinha,
Se nele só, ouvindo-o e nada mais -
Sinto a felicidade viver minha.
Sílabas irreais,

Murmúrio vago, arfar de incerta sugestão,
Tirai da flor do ramo, só para ouvir
O segredo, o mistério ou a canção,
Que faz a dor sorrir,

Indefinida incompreensão falada
Da vida por passar, como a que foi!...
Nome sem fim! Não me sejas nada!
Sem ti a vida dói...

Sem a esperança oculta no teu vago
E amortecido brilho sou apenas,
O cansaço de mim, certo e aziago,
Morta flor nada sendo à flor do lago.



FERNANDO PESSOA, 30 DE JULHO DE 1917



Tradução do título: " A voz e nada mais"

Sem comentários: