Teu perfil, teu olhar real ou feito,
Lembra-me aquela eterna ocasião
Em que eu amei Semiramis, eleito
Daquela plácida visão.
Amei-a, é claro, sem que o tempo e espaço
Tivessem nada com o meu amor.
Por isso guardo desse amor escasso
O meu amor maior.
Mas, ao olhar-te, lembro, e reverbera
Quem fui em que eu sou.
Quando eu amei Semiramis, já era
Tarde no Fado, e o amor passou.
Quanta perdida voz cantou tão bem
Nos séculos perdidos que hoje são
Uma memória irreal do coração!
Quanta voz viva, hoje de ninguém!
FERNANDO PESSOA, 27 DE JULHO DE 1934
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