sexta-feira, 22 de março de 2013

FAZ HOJE 99 ANOS




Mãos brancas (meras mãos sem corpo e sem braços) 
Acariciando um negro veludo... 
Os olhos do guerreiro vistos por cima do escudo 

(Cartas de luto sobre regaços) 
E nunca desfraldado o estandarte 
De modo a ver-se que cores e imagens tem... 
Mãos sem lágrimas, mãos que nunca seriam de mãe... 
Ah, não ser eu toda a gente e toda a parte!" 

Dói púrpuras o silêncio, e que lírios a hora! 
E nos tabernáculos das ocasiões um rito de timbres colora 
Os vitrais das passadas desilusões... 

Cessou no Oposto o ruído de vagas batalhas 
Ficou todo o espaço sendo, com túmulos (brancos) a Hora,
Um suspirar de guizos, com fimbrias de falhas... 

Abrem-se de par em par impossíveis portões 
E desabrocha a ira nos olhos de Artur 
Dos vultos, na sombra, de leões... 

Mas os dias acontecem oráculos neutros 
E não há rituais, Princesa, senão de imperfeições... 


FERNANDO PESSOA, 22 DE MARÇO DE 1914

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