Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doura sem
literatura.
O rio corre, bem ou
mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente
matinal,
Como tem tempo não
tem pressa.
Livros são papéis
pintados com tinta.
Estudar é uma coisa
em que está indistinta
A distinção entre
nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor,
quando há bruma,
Esperar por D.
Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a
bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo
são as crianças,
Flores, música, o
luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de
criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de
finanças
Nem consta que
tivesse biblioteca...
FERNANDO PESSOA, 16
DE MARÇO DE 1935
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