Suavíssimo, como se fora
Só o supô-lo, o
orvalho vem,
Parece como quando
chora
A alma, mas os olhos
têm
Certa secura
enganadora.
Suavíssimo, como se
andasse
Do próprio ser a se
afastar,
O orvalho, ainda que
não passe,
Dir-se-ia estar já a
passar,
Ou que o seu ser é um
disfarce.
Suavíssimo, como se a
vida
Pudesse querê-lo p’ra
o reter,
É uma impalpável estrada
ida,
Inexistente
arrefecer,
Como a minha alma e o
meu ser...
FERNANDO PESSOA, 14
DE MARÇO DE 1931
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