Quem vende a verdade, e a que esquina?
Quem dá a hortelã com
que temperá-la?
Quem traz para casa a
menina
E arruma as jarras da
sala?
Quem interroga os
baluartes
E conhece o nome dos
navios?
Dividi o meu estudo
inteiro em partes
E os títulos dos
capítulos são vazios...
Meu pobre
conhecimento ligeiro,
Andas buscando o
estandarte eloquente
Da filarmónica de um
Barreiro
Para que não há barco
nem gente.
Consequências
naturais do malogro...
Novidades a dar aos
mortos...
Tenho o meu coração
frio e rouco
Tapeçarias de parte
nenhuma
Quadros virados
contra a parede...
Ninguém conhece,
ninguém arruma
Ninguém dá nem pede.
Ó coração epitélico e
macio,
Colcha de crochet do
anseio morto,
Grande prolixidade do
navio
Que existe só para
nunca chegar ao porto.
FERNANDO PESSOA, 28
DE MARÇO DE 1930
Sem comentários:
Enviar um comentário