HORA MORTA
Lenta e
lenta a hora
Por mim
dentro soa...
(Alma que
se ignora!)
Lenta e
lenta e lenta,
Lenta e
sonolenta
A hora se
escoa...
Tudo tão
inútil!
Tão como
que doente,
Tão
divinamente
Fútil -
ah, tão fútil...
Sonho que
se sente
De si
próprio ausente...
Naufrágio no ocaso...
Hora de
piedade...
Tudo é
névoa e acaso...
Hora oca e perdida.
Cinza de
vivida
(Que tarde
me invade?)
Por que
lento ante ela,
Lenta em
seu soar,
Me sinto
ignorar?
Por que é
que me gela
Meu
próprio pensar
Em sonhar
amar?...
FERNANDO
PESSOA, 23 DE MARÇO DE 1913
Sem comentários:
Enviar um comentário