quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

FAZ HOJE 97 ANOS





Chove?... Nenhuma chuva cai...
Então onde é que eu sinto um dia
Em que o ruído da chuva atrai
A minha inútil agonia?


Onde é que chove, que eu o ouço?
Onde é que é triste, ó claro céu?
Eu quero sorrir-te e não posso,
Ó céu azul, chamar-te meu...


O escuro ruído da chuva
É constante em meu pensamento.
Meu ser é a invisível curva
Traçada pelo som do vento...


E eis que ante o sol e o azul do dia,
Como se a hora me estorvasse,
Eu sofro... E a luz e a sua alegria
Cai aos meus pés como um disfarce.


Ah, na minha alma sempre chove.
Há sempre escuro dentro de mim
Se escuto, alguém dentro em mim ouve
A chuva, como a voz de um fim...


Quando é que eu serei da tua cor
Do teu plácido e azul encanto
Ó claro dia exterior,
Ó céu mais útil que o meu pranto?


FERNANDO PESSOA, 1 DE DEZEMBRO DE 1914

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