sábado, 3 de dezembro de 2011

FAZ HOJE 94 ANOS





Sossego enfim. Meu coração deserto
Nada espera da inútil caravana.
Pouco a pouco meu spírito se irmana
Com ter perdido o próprio saber incerto.


É sempre além de mim o indescoberto
Porto ao luar com que se o sonho engana.
De imperceptível o sonho, plana
Para a vida a este desacerto.


Engano a lagos de algas  por achar,
Sinto vogar o barco das amadas.
A noite despe não haver luar


E como um filtro de horas encantadas
Tremem os rios, gelam as estradas
No absurdo vácuo de eu não ter que amar.


FERNANDO PESSOA, 3 DE NOVEMBRO DE 1917

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