segunda-feira, 4 de julho de 2011

FAZ HOJE 77 ANOS





Saí do comboio,
Disse adeus ao companheiro de viagem,
Tínhamos estado dezoito horas juntos.
A conversa agradável,
A fraternidade da viagem,
Tive pena de sair do comboio, de o deixar.
Amigo casual cujo nome nunca soube.
Meus olhos, senti-os, marejaram-se de lágrimas...
Toda a despedida é uma morte...
Sim, toda a despedida é uma morte.
Nós, no comboio a que chamamos vida
Somos todos casuais uns para os outros
E temos todos pena quando por fim desembarcamos.


Tudo o que é humanos me comove, porque sou homem.
Tudo me comovo, porque tenho,
Não uma semelhança com ideias ou doutrinas,
Mas a vasta fraternidade com a humanidade verdadeira.


A criada que saiu com pena
A chorar de saudade
Da casa onde a tratavam muito bem...


Tudo isso é no meu coração a morte e a tristeza do mundo.
Tudo vive, porque morre, dentro do meu coração.


E o meu coração é um pouco mais do que o universo inteiro.


ÁLVARO DE CAMPOS, 4 DE JULHO DE 1934

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