P - HÁ
Hoje, que sinto nada a vontade, e
não sei que dizer,
Hoje, que tenho a inteligência sem
saber o que qu'rer,
Quero escrever o meu epitáfio:
Álvaro de Campos jaz
Aqui, o resto a Antologia Grega
traz...
E a que propósito vem este bocado de
rimas?
Nada... Um amigo meu, chamado
(suponho) Simas,
Perguntou-me na rua o que é que
estava a fazer,
E escrevo estes versos assim em vez
de lho não saber dizer.
É raro eu rimar, e é raro alguém
rimar com juízo.
Mas às vezes rimar é preciso.
Meu coração faz pá como um saco de
papel socado
Com força, cheio de sopro, contra a
parede do lado.
E o transeunte, num sobressalto,
volta-se de repente
E eu acabo este poema
indeterminadamente.
ÁLVARO DE CAMPOS, 2 DE DEZEMBRO DE
1929
Sem comentários:
Enviar um comentário