O BIBLIÓFILO
Ó ambições!... Como eu quisera ser
Um pobre bibliófilo parado
Sobre o eterno fólio desdobrado
E sem mais na consciência de viver.
Podia a primavera enverdecer
E eu sempre sobre o livro recurvado
Sorriria a um arcaico passado
De uma medieval moça e qualquer.
A vida não perdia nem ganhava
Nada por mim, nenhum gesto meu dava
Com gesto mais ao seu Amor profundo.
E eu lia, a testa contra a luz
acesa,
Sem nada querer ser como a beleza
E sem nada ter sido como o mundo.
FERNANDO PESSOA, 29 DE DEZEMBRO DE
1911
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