Quando os anjos são gente são
crianças,
Crianças pequeninas que não crescem
Porque, como aqui são
Visitas, só, das nossas esperanças,
Sorriem para o nosso coração
Só um ano ou dois; depois
desaparecem.
Será que o céu não pode aqui deixá-las
Mais que o tempo, tão pouco!, que há
que dar
Para que o coração aprenda a
amá-las,
E assim possa aprender a tudo amar?
Não sei... Talvez saudades da outra
vida
As façam regressar depressa ao céu
Depois de estar sua missão cumprida
-
Qualquer missão, por nós
desconhecida,
De amor e paz, que Deus nos deu.
Vêm, sorriem, passam, como a flor
Deixa cair as pétalas já fanadas...
Ai, Maria Leonor,
Teus olhos cujo azul era o amor,
E as tuas pequenas mãos tão lindas!
FERNANDO PESSOA, 29 DE NOVEMBRO DE 1934
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