ABENDLIED
O orvalho da tarde beija
Vagamente a minha face,
Vagamente e sem tocar;
E em mim sem que eu queira nasce
Uma ânsia que só deseja
O que não pode encontrar.
A lágrimas não me leva,
Mas aspira dubiamente
Ao que nem está no porvir;
E em mim a minha alma sente
Onda que suave se eleva
Para suave cair...
Ah, esta alma onde não arde
Centelha que nada avive,
Não envolvei (esp'rança vã!)
A Transcendência que vive
Desde o orvalho da tarde
Ao orvalho da manhã.
FERNANDO PESSOA, 15 DE NOVEMBRO DE
1908
Sem comentários:
Enviar um comentário