terça-feira, 6 de novembro de 2018

FAZ HOJE 105 ANOS





ENVOI

Princesa que morreste
No meu castelo antigo,
Tuas mãos, - nunca as deste
Ao afago amigo...
A orla da tua veste -
Que teve ela a ver comigo?

Expiraste e já eras
Morta e não sei onde...
(Perfume das primaveras
O que o teu seio esconde)
Debruço-me sobre as eras
E chamo... Ninguém me responde.

Haverá algum dia
E alguma hora real
Em que a minha mão fria
Encontra a tua afinal
E a minha dor seja alegria
E o o meu bem o meu mal.

Não sei... E o não sabê-lo
Cansa-me de te amar.
A cor do teu cabelo?
Não a posso sonhar.
O teu olhar? É belo...
Mas tu não tens olhar...

Talvez me esperes?
Quem sabe.
Tudo morreu em mim...
Na tua ida cabe
O nunca teres fim...
O mundo que desabe
E eu ter-te-ei enfim.

FERNANDO PESSOA, 6 DE NOVEMBRO DE 1913


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