Nas margens do rio verde
Que por verdes margens
corre
Meu pensamento se perde.
Como se a alma o
deserde,
Meu saber que penso
morre.
Tão lento, tão afastado
Do propósito de um curso
Vai o rio, que o meu
fado
Parece bem figurado
Nesse insciente
percurso.
Nada lastimo nem peço.
Nada desejo nem creio.
No rio verde me esqueço
Até de que sou possesso
Da ausência do meu
enleio.
Nada, nem remos nem
velas,
Turvam a água do rio.
E, quando anoitece,
aquelas
Ondas vão sob as
estrelas
No seu mesmo nada a fio.
Nada? Não. No meu olhar
E no que penso por ver
É que há um rio a mudar,
É que há 'sperança de um
mar,
Mas nem desejo de o ter.
FERNANDO PESSOA, 28 DE
NOVEMBRO DE 1933
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