Se, depois de eu morrer,
quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais
simples.
Tem só duas datas, a da
minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa
todos os dias são meus.
Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem
sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que
não pudesse realizar, porque nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi
para mim senão um acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas
são reais e todas diferentes umas das outras;
Compreendi isto com os
olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o
pensamento seria achá-las todas iguais.
Um dia deu-me o sono
como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único
poeta da Natureza.
ALBERTO CAEIRO, 8 DE NOVEMBRO
DE 1915
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