Ó vento, evocas
montanhas,
Encostas com arvoredos,
Onde, com garras
estranhas
Com que os ramos
arrepanhas,
Fazes das árvores medos.
Evocas... Mas nesta rua
Onde nem árvores há
A abstracta violência
tua
É como uma pessoa nua -
O natural que ali está!
Ninguém montanhas evoca,
Ninguém sabe mais de ti
De que trazes pó à boca,
De que és ar que desloca
No momento só aqui.
Meu Príncipe, o teu
segredo
De magia e condição,
Ficou lá entre o
arvoredo,
Aqui és teu arremedo,
Vives de erguer pó do
chão.
Assim meu ser com que
amei
Deuses antes de a alma
ver
Vive hoje dentro da lei
Que fez de mim quem não
sei,
O chão do nada a varrer.
FERNANDO PESSOA, 18 DE
NOVEMBRO DE 1933
Sem comentários:
Enviar um comentário