Pela tarde de outono
onde o verão
Deixou rastos ainda, e a
escuridão
É de fogo já baço no
horizonte -
Por esta tarde onde
indecisamente
O vento vago paira como
insonte
De sua vinda morna e
(...),
Por esta tarde sem
esp'ranças meço
Todo o vácuo exterior da
minha vida,
E eu, que nada quero e
nada peço
Eu, a quem nada traz a
dolorida
Felicidade da renúncia,
ou a hora
Sentidamente diferida
Mas sempre tida como
precursora -
Meço todo este vácuo que
sou eu
E, sem pasmo, nesse meu
existir, olho
Meu ser que não sei onde
se perdeu
Que sem felicidade ou
indústria colho
A dias casuais que a Dor
me deu...
FERNANDO PESSOA, 5 DE
OUTUBRO DE 1916
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