Na sombra do Monte
Abiegno
Repousei de meditar.
Vi no alto o alto
Castelo
Onde sonhei de chegar.
Mas repousei de pensar
Na sombra do Monte
Abiegno.
Quando fora amor ou
vida,
Atrás de mim o deixei,
Quando fora desejá-los,
Porque esqueci não
lembrei.
À sombra do Monte
Abiegno
Repousei porque
abdiquei.
Talvez um dia, mais
forte
Da força ou da
abdicação,
Tentarei o alto caminho
Por onde ao Castelo vão.
Na sombra do Monte
Abiegno
Por ora repouso, e não.
Quem pode sentir
descanso
Com o Castelo a chamar?
Está no alto, sem
caminho
Senão o que há por
achar.
Na sombra do Monte
Abiegno
Meu sonho é de o
encontrar.
Mas por ora estou
dormindo,
Porque é sono o não
saber.
Olho o Castelo de longe,
Mas não olho o meu
querer.
Da sombra do Monte Abiegno
Que me virá desprender?
FERNANDO PESSOA, 3 DE
OUTUBRO DE 1932
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