Não sei que sonho me não
descansa
E me faz mal...
Mas eia! o harmónio a
guiar a dança
Nesse quintal.
E eu perco o fio ao que
não existe
E oiço dançar,
Já não alheio, nem
sequer triste,
Só de escutar.
Quanta alegria onde os
outros são
E dançam bem!
Dei-lhes de graça meu
coração
E o que ele tem.
Na noite calma o
harmónio toca
Aquela dança,
E o que em mim sonha um
momento evoca
Nova esperança.
Nova esperança que há-de
cessar
Quando, já dia,
O harmónio eterno que
há-de acabar
Feche a alegria.
Ah, ser os outros! Se eu
o pudesse
Sem outros ser!,
Enquanto o harmónio
minha alma enchesse
De o não saber.
FERNANDO PESSOA, 10 DE
OUTUBRO DE 1933
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