Traze, porque a verdade
nada traz,
Com as mentiras dessa
veste rara,
O ouro que o traje teu
sinistro faz,
O ouro que faz sinistra
a tua tiara.
Sobre o peito a cruz
jaz.
Traze, porque a mentira
é rosa e lírio,
O teu cansaço de eu ser tu,
que vem
Dos festivais longínquos
do delírio,
Para que seja ritual
também,
Cálice e hóstia e círio.
Traze, longínqua
penitente exposta
Aos mistérios do mundo
que não há,
A veste que sobre a alma
em corpo é posta,
A tiara de luz que a
sombra dá,
Traze o que a febre
gosta.
FERNANDO PESSOA, 2 DE
OUTUBRO DE 1933
Sem comentários:
Enviar um comentário