O mar jaz. Gemem em
segredo os ventos
Em Éolo cativos,
Apenas com as pontas do
tridente
Franze as águas Neptuno,
E a praia é alva e cheia
de pequenos
Brilhos sob o sol claro.
Eu quisera, Neera, que o
momento,
Que ora vemos, tivesse
O sentido preciso de uma
frase
Visível nalgum livro.
Assim verias que certeza
a minha
Quando sem te olhar digo
Que as cousas são o
diálogo que os deuses
Brincam tendo connosco.
Se esta breve ciência te
coubesse,
Nunca mais julgarias
Ou solene ou ligeira a
clara vida,
Mas nem leve nem grave,
Nem falsa ou certa, mas
assim, divina
E plácida, e mais nada.
RICARDO REIS, 6 DE
OUTUBRO DE 1914
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