Onde
é que chove, que eu o ouço?
Onde
é que é triste, ó claro céu?
Eu
quero sorrir-te, e não posso,
Ó
céu azul, chamar-te meu...
E
o escuro ruído da chuva
É
constante em meu pensamento.
Meu
ser é a invisível curva
Traçada
pelo som do vento...
E
eis que ante o sol e o azul do dia,
Como
se a hora me estorvasse,
Eu
sofro... E a luz e a sua alegria
Cai
aos meus pés como um disfarce.
Ah,
na minha alma sempre chove.
Há
sempre escuro dentro em mim.
Se
escuto, alguém dentro em mim ouve
A
chuva, como a voz de um fim ...
Quando
é que eu serei da tua cor,
Do
teu plácido e azul encanto,
Ó
claro dia exterior,
Ó
céu mais útil que o meu pranto?
FERNANDO
PESSOA, 1 DE DEZEMBRO DE 1914
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