Antes que o sono afunde
Minha alma em más visões
E em seu abismo a inunde
De falsas confusões,
Com quanto ainda em mim vive,
Enquanto o sono espero,
Relembro o bem que tive
E sonho o bem que quero.
Então, porque sonhada
Te tive, e sonho ainda,
Como saudade és dada,
E como sonho és linda.
Até que, vindo a aragem
Invito como a vida,
Teu ser se perde e eu sonho
Outra cousa indevida
E é um fim
Natural e sem arte:
Como flor que se fana,
Ou taça que se parte.
FERNANDO PESSOA, 15 DE DEZEMBRO DE 1930
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