AUTOPSICOGRAFIA
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é
dor
A dor que deveras sente.
E os que lêem o que
escreve
Na dor lida sentem bem
Não as duas que ele
teve,
Mas só a que eles não
têm.
E assim nas calhas da
roda
Gira, a entreter a
razão,
Esse comboio de corda
A que se chama coração.
FERNANDO PESSOA, 1 DE
ABRIL DE 1931
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